12.4.11

Bailarinos homens ainda sofrem com discriminação








A culpa, nesse caso, é muitas vezes dos pais. A escassez de homens em escolas de balé clássico no país, em pleno século 21, ainda tem raízes no preconceito em relação a uma atividade considerada “coisa do sexo feminino”. Enquanto em outros países, as escolas mantém turmas só de rapazes, no Brasil, pode-se contar nos dedos de uma mão, – e olhe lá! –  o número de garotos em uma sala de aula. “Aí, logicamente, a atenção não será para ele, e o aluno se desestimula e desiste”, diz Jair Moraes, professor do Balé Teatro Guaíra e criador da independente Companhia de Dança Masculina Jair Moraes. Com mais de 300 alunos, a Escola de Dança Teatro Guaíra (EDTG) tem apenas um ou dois meninos em cada turma. “Temos mais rapazes, pois as crianças não têm muito apoio dos pais para trazê-los. Quando chegam a uma certa idade, conseguem vir por conta própria. É uma questão cultural do Brasil. Em outros países, dançar é natural para os homens. Então, isso gera até mesmo uma diferença de mercado: os rapazes são sempre mais disputados nas companhias brasileiras”, explica Sylvia Andrzejewski Massuchin, coordenadora da EDTG.  Na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, no entanto, essa configuração parece mudar. De um total de 282 alunos, 103 são garotos.
Nas academias de dança, a presença masculina ainda é problemática nas aulas de dança clássica. No Studio D1, de vez em quando surgem alguns meninos interessados em dançar balé. “Os meninos não se criam. Eles começam, mas freqüentemente são obrigados a abandonar o curso por pressão do pai machista”, conta a proprietária da academia, Dora de Paula Soares. Muitos alunos, seja de academias ou de escolas de dança, são jovens homossexuais que enxergam na dança a oportunidade de se libertar da repressão familiar. “É uma visão errada porque a dança não tem nada a ver com isso. Aí, tenho que explicar que eles podem ter a vida que quiserem, mas, em cena, quero que tenham uma postura masculina”, diz Moraes.
Ele é uma espécie de “paizão” dos quase 30 homens que participam de sua companhia, criada há oito anos para revelar talentos que, sem oportunidade, nunca despontariam. São homens de 16 a 29 anos, das mais diversas constituições físicas, que todas as noites trocam a roupa do trabalho pela malha de dança. Muitos só puderam realizar o sonho de dançar quando se libertaram do jugo do pai repressor. São histórias que se assemelham à do próprio Jair Mores. Filho único de uma família carioca de baixa renda, de homens militares, esperava-se que ele seguisse pelo mesmo caminho. “Aos 10 anos, descobri que dançar era o que eu queria, mas meu pai nunca iria deixar. Então, fui fazer teatro”, conta. Só quando o pai morreu, Moraes pôde dançar a sério. Por isso, ele compreende bem as dificuldades dos rapazes que batem à sua porta à procura de uma oportunidade de mostrar seus talentos. 
Por começarem a dançar mais tarde do que a média das meninas, os meninos precisam receber um treinamento acelerado. “Trabalho com corpos bem diferentes e tenho que burilá-los, pô-los em cena para dançar. Eles dançam em espetáculos, têm um aproveitamento em cena melhor do que em sala de aula, porque em sala estou acelerando seu aprendizado na base da ‘paulada’. A mulher vem mais dotada, começa bem mais cedo com  iniciativa das família.
Nem só de técnica são feitos os encontros com Jair Moraes. O “paizão” conhece bem a realidade dura de seus alunos e, por isso, conversa muito sobre sexo, drogas e relações familiares.

“Não vou formar o primeiro bailarino de uma companhia. Quero, acima de tudo, criar cidadãos, ensinar o caminho da dança para que a pessoa possa sobreviver com isso, dar aula, criar coreografias. Mas é complicado, porque a família espera que os filhos ganhem muito dinheiro, e culturalmente nosso país é pobre. Se o artista não está na TV Globo, não é visto e não tem bom salário"

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Foto Plano de Fundo: Coreografia | "The Messiah | Silêncio" do Mestre Jair Moraes